Tuesday, May 19, 2015

Questionário sobre a prática da ilustração (to be translated...)

A former student asked me to answer a questionnaire to one of the disciplines he is now doing to get is Master in Illustration. As I answered them I realized they are interesting questions to have the social networks. Here is the copy-paste
Como surge o seu gosto por ilustração infantil?
_ O gosto surge desde que somos crianças gostamos dos livros com imagens. Lembro-me de ficar horas a olhar para os desenhos e querer fazer algo assim tão bonito, copiava por cima, desenhava ao lado, usava papel químico...às vezes estragava os livros, em alguns ainda se vê o contorno a lápis.
Porque decide começar a fazer álbuns ilustrados?
__Não decidi conscientemente até 2009, foi nessa altura que entrei no doutoramento em Design Gráfico com a ideia de estudar a fundo todos os componentes e fazer melhores livros. Até 2009 foram os pedidos das editoras que foram ditando o que fazia. Postais e manuais escolares foram criando o meu portfólio e, entretanto, como o traço se adaptava bem ao género infantil começaram a surgir convites para ilustrar livros "a sério" por volta de 2004.
Em 2007 tive os primeiros contactos com o Indesign e a partir daí ilustrar e paginar foram conseguindo mais trabalhos até que em 2009 decidi tentar fazer da ilustração a minha única ocupação e trabalho a tempo inteiro... o que ainda não consegui.

Quais são as suas fontes de inspiração?
__  Depois de 5 anos de pintura e um mestrado de 3 anos em Desenho fiquei a preferir os desenhadores virtuosos: os Romanticos, os Simbolistas e os Pré-Rafaelitas, alguns Neo-Clássicos,  (ilustradores: John Flaxman, Arthur Rackham, Doré, Granville)
inspirações comtemporaneas: James Jean, Lars Henkel, Black Sad (a BD desenhada por Juanjo Guarnido) , Paula Bonet, Joanna Concejo, Pascal Champion ... tenho um board no Pinterest com esses autores: https://www.pinterest.com/anafonso_com/inspiration-illustration/
Fontes de inspiração são também a natureza e o desporto: viajar por aí para a correr, mergulhar ou andar de bicicleta enchem-me de ideias e fotos que uso nos projetos.

Os ilustrações reflectem o seu imaginário. De onde é que ele surge?
De onde surgem as personagens? E os cenários?
__ O meu imaginário não tem imagens, só sensações.
Todos os cenários e personagens encontro-os a desenhar. Ou seja, antes de estarem no papel não existem. Na minha cabeça não há imagens prontas para sair, há uma sensação de luz e emoções que quero transmitir e enquanto vou desenhando vou esboçando, apagando, refazendo, acentuando traços... é como se estivesse a moldar barro, mas com linhas!
Na internet e sobretudo no Pinterest (https://www.pinterest.com/anafonso_com/) tiro as referências necessárias. Não consigo criar do vazio, é preciso ter matéria - em geral preciso 5 ou 6 imagens de um leão no écran do portátil para compreender o volume, peso, textura, e só depois consigo avançar para desenhar o "meu" leão.
O que tenta transmitir com as suas ilustrações?
_Luz, beleza, paz, força, magia, fé, ternura... nem sei. Gostava de saber mostrar, como tão bem faz António Gedeão, o milagre das pequenas coisas. Contemplar o micro e sentir que fazemos parte de algo enorme e perfeito.

Sente que impõe o seu imaginário às crianças/leitores?
_Sim. Ao expor uma pessoa a determinada imagem, música ou filme estamos a emergir essa pessoa num ambiente que não é o dela. 

Acha que as crianças tem o seu próprio imaginário?
_Sem dúvida. 

Se sim, como reagem as crianças ao ser-lhes imposto um imaginário diferente do delas?
_Penso que absorvem o que gostam.
Essa diferença pode despertar a curiosidade ou a indiferença, não há como saber como vão reagir. O facto de não gostarem de algo pode causar o gozo e o riso, que é também uma maneira de aprender e usufruir da diferença. Em geral os mais pequenos divertem-se bastante com o que acham feio ou diferente.

Como lidar com crianças? Ou seja, que preocupações se tem de ter ao fazer álbuns ilustrados para crianças?
_Cada ilustrador e autor terá a sua resposta. Uns escolhem guiar-se pelos estudos que existem sobre a infância adequando o produto ao público alvo e outros escolhem fazer o que sentem ser uma proposta válida.
 
_A resposta que mais gosto dos ilustradores que tenho estudado são os que dizem desenhar para si. O Oliver Jeffers ou o Shaun Tan fazem isto mesmo e são celebridades da ilustração.

Que cuidados tem com as cores? Como se escolhe a paleta de cores?
_Tem de haver cuidado para conseguir uma harmonia cromática. Isso aprende-se vendo e experimentando.
Para mim sempre foi meio intuitivo, penso que a paleta é algo que o imaginário escolhe por nós, no meu caso, as tais sensações que quero transmitir, são doces, leves, redondas.. acabo sempre por ir para as cores quentes.
 
Gostar da Natureza leva-me para os verdes amarelados, o toque suave do pêlo dos bichos... ocres, castanhos, amarelo Nápoles, brancos e cinzentos quentes.
Às vezes a paleta é imposta: trabalhar a duas cores ou num fundo escuro... mas acabamos sempre por puxar pelas cores que nos são mais caras.
Para usarem no Photoshop, costumo dar aos alunos com uma paleta de cores dividida por pequenas escalas temáticas: cor de pele, cor de floresta, deserto, etc. Tenho a certeza que cada um de nós tirará dela resultados muito diferentes. Eu uso-a desde 2003, pois sei que o “tal verde” está à esquerda em cima, e o amarelo para os reflexos é o primeiro da linha...etc. tornou-se rápido e prático usar sempre a mesma.
Como se consegue saber a reacção que as crianças vão ter?
_Não se sabe.

Que contacto tem com as crianças?
_deixando de dar aulas fiquei com o contacto das crianças que são filhos dos meus amigos, dos sobrinhos, e claro, dos pequenos leitores que aparecem em sessões de autógrafos organizadas pelas editoras.

Como se reage quando a simplicidade e inocência das crianças gera um sentido crítico apurado?
_Com espanto e alegria, em geral têm ideias tão diferentes que eu nunca chegaria lá.
É engraçado perceber como eles pensam e projetam a sua personalidade. A cicatriz que tenho no lábio, por exemplo, para uma aluna era a asa de uma borboleta e para outro aluno era uma teia de aranha! Isto dito por um adulto seria quase ofensivo, entre crianças deu em risota e uns “nhééé” bem dispostos.
Acha o mundo da ilustração e do álbum ilustrado difícil?
__É o melhor mundo para se ter uma profissão, logo, sim é difícil entrar lá, estar lá, criar obra lá.

O que diz o público? Isso é relevante?
__Claro, em especial para as editoras.
 
Como autores, contudo, temos de evoluir pelo nosso caminho sem esperar o aplauso do público.

Segue tendências? Ou tenta sempre inovar mais e mais?
__Penso que não sigo tendências na ilustração, mas estou atenta às "modas”. Até porque a contra-tendência, um dia, será moda :)
Eu tento fazer mais e melhor, desenhar melhor, com outros materiais, experimentar softwares novos... mas numa lógica de conseguir melhorar o que tinha em vista fazer e nunca de estar a par das possibilidades... que são infinitas.

Falando de álbuns ilustrados para crianças, de uma maneira geral, acha que os ilustradores de hoje se preocupam em ilustrar para as crianças? Ou ilustram para si mesmos e para os outros ilustradores?
__Foi como disse antes: «Cada ilustrador terá a sua resposta. Uns escolhem guiar-se pelos estudos que existem sobre a infância adequando o produto ao público alvo e outros escolhem fazer o que sentem ser uma proposta válida. A resposta que mais gosto dos ilustradores que tenho estudado são os que dizem desenhar para si. O Oliver Jeffers ou o Shaun Tan fazem isto mesmo e são celebridades da ilustração.»
Pensando a favor do egoísmo criativo: será que Picasso inventou o Cubismo para o público?
Ilustramos para nós? Sim, temos de gostar do que fazemos. Existe também a ideia que algumas referências em certos livros (como os de Anthony Browne) que não são compreendidas pelas crianças se destinam a ser um “piscar de olho” ao adulto que lê à criança. Torna-se uma história para pais e filhos desfrutarem, cada um à altura do seu nível de interpretação cultural.

Acha que há uma preocupação na aceitação do trabalho de cada ilustrador? Isto é, os ilustradores preocupam-se com a aceitação do seu trabalho? E por parte de quem é que procuram essa aceitação?
__Em geral, os ilustradores preocupam-se com isso sim. A aceitação do público é vital para poderem fazer da ilustração um modo de subsistência. 
Antigamente estavam mais dependentes da aceitação por parte das editoras, hoje em dia já se consegue um contato quase direto com o público e com a gráfica o que origina muitos projetos e edições de autor independentes.

As crianças tem muita imaginação, basta um impulso para elas nos contarem uma história. Será que isso pode contribuir para um livro ilustrado?

_Sem dúvida. Os livros do Babar eram uma história de família que as crianças pediram ao pai que passasse a livro. Que melhor exemplo? :)

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